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Censo em agências de publicidade mostra retrato da desigualdade em lideranças

Mikaala Shackelford/Unsplash

O perfil predominante de quem ocupa cargos de liderança nas agências de publicidade é de homens brancos, heterossexuais, cisgêneros, sem deficiência e abaixo de 50 anos. A constatação é do “Estudo Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras”, realizado pela consultoria Gestão Kairós para o Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), iniciativa que une o mercado publicitário na busca por ações inclusivas.

Embora esse retrato não surpreenda, ele mostra o tamanho da desigualdade a ser superada. Em relação ao gênero, há um equilíbrio, com homens ocupando 50,2% dos postos, enquanto mulheres são 49,8%. No critério raça e etnia, as diferenças são acentuadas: 88% dos líderes são autodeclarados brancos e apenas 10,3% são negros (pretos e pardos). Indígenas e amarelos representam, cada um, aproximadamente 1%. Como liderança, foram considerados cargos a partir do nível de gerência.

Quando olhadas orientação sexual e identidade de gênero, 16,2% das lideranças de agências é formada por profissionais LGBTQIAP+, representatividade acima dos 5% registrados pelo IBGE. A presença de pessoas com deficiência nos cargos de gestão, no entanto, é de apenas 0,7% das autodeclarações. Quanto à idade, há 6% de pessoas acima de 50 anos.

A pesquisa foi realizada no período de dois meses, em 24 das 29 agências que compõem o Observatório da Diversidade na Propaganda. Ao todo, elas representam mais de 6.200 funcionários do setor de publicidade. Para o levantamento, foram aplicadas questões quantitativas e qualitativas. A partir dos resultados, o objetivo é criar estratégias de cooperação para melhorar o cenário de desigualdade na indústria da propaganda.

Quando olhado o quadro geral dos colaboradores das agências, em comparação com a representatividade das lideranças, o resultado também mostra barreiras importantes que os grupos minorizados enfrentam.

No recorte de gênero, entre todos os funcionários, as mulheres representam 57% dos postos, contra 43% de homens. No quesito raça e etnia, 68% dos profissionais totais das agências são brancos, 30% são negros (pretos e pardos) e, aproximadamente, 1% são amarelos e indígenas. Quanto à orientação sexual e identidade de gênero, 24% dos pesquisados se autodeclaram LGBTQIAP+, confirmando o ambiente das agências com maior representatividade do que a população geral. Pessoas com deficiência representam apenas 1,6%, e os acima de 50 anos são 5%.

Com exceção do recorte etário, em todos os outros critérios demográficos, a representatividade dos grupos minorizados cai nos quadros de liderança em comparação com o quadro geral. Isso evidencia que mulheres, negros, população LGBTQIAP+ (ainda que sobrerrepresentada) e PCDs enfrentam barreiras para alcançar cargos de gestão dentro das agências em relação ao perfil padrão de homem branco, heterossexual, cisgênero, sem deficiência.

Com esses números do censo em mãos, o objetivo do ODP agora é elaborar estratégias para redução de barreiras e maior inclusão. “Hoje temos um estudo robusto que servirá como base para traçar os próximos passos da mudança que precisamos de uma forma coletiva”, afirma Ariel Nobre, secretário geral da entidade. “Fundamos o ODP para acelerar a inclusão de grupos minorizados na indústria da comunicação e nos preocupamos em considerar os diferentes níveis de maturidade que as agências estão, de forma a contribuir para que esse seja um movimento sustentável a longo prazo.”


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