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Women to Watch: Como tecnologias trabalham em favor da equidade

Imagem: Renata Gama/UOL

Giselle Beiguelman e Dora Kaufman, durante painel sobre cybersegurança, vigilância e preconceito, no evento Women to Watch

Da inteligência artificial aos games, as tecnologias podem trabalhar contra ou a favor da equidade de gênero, da luta antirracista e da inclusão. O desafio está em como fazer uso das ferramentas para reduzir desigualdades e ocupar territórios, segundo mulheres que participaram do Women to Watch, evento realizado nesta terça-feira, 21, em São Paulo, que teve o UOL como um dos patrocinadores. Com o tema “Representatividade positiva, presença e transformação”, o fórum buscou dar luz e protagonismo a mulheres que fazem a diferença em diversos campos.

Uma das características da inteligência artificial tem a ver com as ambivalências. Eu desconheço uma aplicação que não tenha simultaneamente externalidades positivas e negativas”, disse Dora Kaufman, pesquisadora dos impactos éticos/sociais da Inteligência Artificial, em painel sobre Cyber Vigilância e preconceitos.

Para ela, isso dificulta avaliar e regulamentar o uso das tecnologias para proteger a sociedade de potenciais danos. Mas é preciso também olhar para o outro lado dessas ferramentas. “A gente vive cotidianamente com dilemas. Os mesmos dados servem para coisas positivas e negativas, por exemplo, o dilema conveniência versus privacidade. Como a gente enfrenta essa ambivalência? Como a gente enfrenta essa questão se, ao mesmo tempo, os dados permitem inúmeras vantagens?”

Gisele Beiguelman, artista digital, professora da FAU-USP e autora do livro “Políticas da imagem”, aponta que, se os dados refletem a sociedade, eles invariavelmente reproduzem preconceitos. “Quanto mais as inteligências artificiais se consolidam como grande agente tecnológico, mais fica claro que as grandes questões que estamos vivendo hoje, que dizem respeito ao colonialismo histórico, são maximizadas pelo que podemos chamar de data colonialismo.”

Isso acontece independentemente da arquitetura algorítmica, explica. “Os dados, a priori, já vêm enviesados. Não é uma coincidência que você vai traduzir um texto, no ChatGPT ou Google, e ‘ela’ será traduzida como ‘ele’. Não é porque o Google é burro ou o ChatGPT limitado, mas porque os dados são massivamente masculinos. O viés racista das câmeras de reconhecimento facial acontece porque a tecnologia é racista? Não, mas porque o dataset no qual essas tecnologias foram treinadas são, porque vêm de uma sociedade racista. Então, isso vai criando novos formatos de discriminacao.”

Apesar de identificar pontos críticos para a sociedade nas novas tecnologias, Gisele é entusiasta da inteligência artificial como ferramenta de transformação. “Estamos num momento que aponta para o que produzimos de pior, como racismo e machismo, ao mesmo tempo, vemos uma oportunidade inédita de ocupação de espaço criativo como nunca houve.”

Ocupação de territórios é o que defende Bruna Pastorini, sócia e CSO da Druid, quando se fala de mulheres nos games. E esse é um campo para marcas se tornarem aliadas. “As marcas têm seus propósitos e missões. E elas podem começar a ver o game como território para dar luz aos seus propósitos. A gente vê isso nos nossos clientes, como Itaú, O Boticário e Samsung. Você usa todo o poder, porte e espaço de uma mega marca para ajudar a desconstruir estereótipos. E tem uma faísca nisso, que gera transformação, você autoriza mulheres ocuparem esse espaço, ao naturalizar sua presença.”

Para Cynthya Rodrigues, sócia da G4B, o mundo dos games ainda coloca as marcas em contato direto com as consumidoras. “Quando a marca busca o game como estratégia de se comunicar, não é uma comunicação passiva. Tem um ponto duplo aí. Imagina um apresentador de TV, você faz uma publicidade na TV, o consumidor só vai ver na tela. Mas se você faz isso na Twitch, com creators, essa galera responde no chat. É algo muito mais acessível e acolhedor.”


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