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Raquel Virginia, da Nhaí: diversidade deve ser vista como estratégia e não filantropia

Imagem: Divulgação

Incluir pessoas não deve ser tratado como uma questão de caridade. Uma indústria de comunicação mais diversa – em gênero, identidades, sexualidade, raça, idade, corpos – tem um potencial mais rico para expandir negócios. É o que defende Raquel Virgínia, CEO da Nhaí, primeira mulher trans negra a vencer o Prêmio Caboré. Ela levou o troféu na edição 2023 como profissional de atendimento e negócios.

“Uma coisa que o mercado tem que mudar é deixar de olhar a pauta da diversidade como filantrópica. Tem que acontecer uma mudança de mindset profunda, porque a diversidade faz crescer, ganhar expansão. No Brasil, que é tão diverso, essa deveria ser a pulsão da nossa indústria”, afirma Raquel.

E, para isso, ela entende que o caminho é fazer a diversidade chegar às cabeças, não apenas em cargos nas empresas, mas também como donas de negócios. “Para que existam empresas mais competitivas, a gente vai ter que ter mais figuras como eu operando”, diz.

Porém, há um desafio estrutural a ser superado. Segundo Raquel, a lógica do mercado, em si, é excludente, porque tende a estrangular as empresas que nascem com poucos recursos, dificultando essa transformação. Ela cita como exemplo dinâmicas naturalizadas, que preveem prazos de 120 a 180 dias para o pagamento de serviços. “Para um pequeno e médio empreendedor, é impossível participar desse mercado, por mais inovador que seu trabalho seja.” Ela mesma diz que quase faliu com a Nhaí, logo que deixou a carreira na música – ela integrou a banda As Baías – para empreender.

Promover essa mudança é uma questão funcional, segundo Raquel. “A gente precisa de dirigentes que facilitem o fluxo de empresas que surgem para que possam desenvolver inovação e ideias. Vão ter empresas que vão surgir e desaparecer por não fazerem sentido, outras que vão cumprir uma função e desaparecer e outras que vão ser consolidadas.”

Mas um passo nessa direção ela já viu com a própria premiação do Caboré no ano passado – a Nhaí incentiva negócios liderados pela comunidade LGBTQIAP+ e realiza projetos de diversidade junto a marcas, e com o reconhecimento tomou impulso para seguir abrindo caminhos para mais empresas. “Aquelas mensagens que não eram respondidas passaram a ser. É uma dinâmica. Meu nome passou a ser mais relevante”, afirma.

E, para além disso, Raquel enxerga também como um sinal de uma nova mentalidade da indústria. “Se eu ganhei, é uma resposta do mercado, tem a ver com uma evolução”, diz. “Quando se tem uma mulher trans negra reconhecida, mesmo que seja exceção, estão se criando novas narrativas e tendências. O Brasil acaba mostrando para o resto do mundo que tem novas potências.”

Para este ano, a CEO da Nhaí diz que direciona seu foco para a realização de novos projetos, incluindo a produção de um evento chamado “Transformas”, que deverá ser produzido no Parque do Ibirapuera, em maio. A ideia é levar atividades de bem-estar e saúde para todos os corpos e formas. O tema, segundo aponta Raquel, conversa com várias tendências.

“O que a gente vai propor é que as pessoas façam esporte, tenham acesso a música e a debates. É toda uma construção voltada para a pauta do bem-estar, que é uma tendência para 2024. Vamos ter as olimpíadas este ano, e deve voltar toda uma discussão de saúde mental e bem-estar em torno dos atletas. E também nas últimas edições se discutiu bastante o tema sobre o corpo das pessoas trans nos esportes.”


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